Embratur: turismo sustentável é uma das soluções para a Floresta Amazônica

Turismo sustentável embratur

Foto: Lençóis Maranhenses | Andrea Miramontes | Lado B Viagem

Desenvolver inovação em tecnologias verdes, para reduzir a pegada de carbono do turismo, é um dos projetos anunciados pelo novo presidente da Embratur, Marcelo Freixo, em entrevista à GreenPressBr. No pacote, está a criação da Embratur Lab, uma incubadora para o setor. Fundos dispostos a financiarem essa transição e bancos públicos são alvo de Freixo, para quem a promoção do ecoturismo é uma das formas de se preservar a Amazônia.

Green Press Br: O senhor tem dito que o turismo é uma solução para a preservação da Amazônia, das florestas… Neste sentido, na prática, de que forma a Embratur pode contribuir?

Marcelo Freixo: A promoção do ecoturismo é, sem dúvida, uma das soluções para a conservação da Floresta Amazônica. Vamos promover um turismo sustentável, de base comunitária, que vai gerar renda para as comunidades locais, proporcionando uma alternativa econômica sustentável ao desmatamento, à pesca e à mineração ilegais.

Os turistas que visitam a Floresta Amazônica geralmente têm interesse em aprender sobre a cultura das comunidades indígenas e ribeirinhas, sobre flora e fauna local e a importância da preservação do meio ambiente. Um turismo de experiência. Isso gera conscientização ambiental. A floresta em pé, os peixes vivos e o rio sem poluição são os nossos maiores patrimônios. Eles podem garantir renda para milhares de brasileiros que até então dependiam de atividades que eram depredatórias do meio ambiente.

A Embratur vai atuar convidando o mundo para visitar o Brasil, visitar nossas florestas, nossas reservas ambientais, e fazer parte desse processo de construção de um Brasil que queremos ser, alinhado com o século 21 e com que o mundo espera de nós, socialmente justo e ambientalmente sustentável. O Brasil deixou de ser párea e voltou a ser visto como um país que tem um povo aliado da humanidade, com compromisso com a sustentabilidade ambiental, e vai ajudar o mundo a enfrentar a crise climática. E o mundo vai entender e querer fazer parte disso. O recado é: nos ajude a ser o Brasil que o mundo deseja.

Então, por um lado, vamos atuar na promoção, trazer o turista estrangeiro, e, por outro, estamos estabelecendo parcerias para ajudar a organizar e qualificar toda a cadeia de serviços, para que esteja apta a receber esse turista estrangeiro. A Embratur vai construir inovação, novas aplicações, tecnologia para que a experiência desse turista seja a melhor possível, e o resultado desse turismo seja o desenvolvimento dessas comunidades e o respeito à nossa biodiversidade.

GPB: Agora que o Brasil volta aos holofotes globais, prometendo virar a mesa e se tornar exemplo de preservação ambiental e combate ao desmatamento, como a Embratur vai se integrar ao rumo traçado pelo governo? Há uma campanha específica que destacará a sustentabilidade no turismo dentro desses projetos?

MF: A sustentabilidade ambiental, o respeito à democracia, aos direitos humanos e à diversidade cultural são valores que pautam a nossa ação e estão totalmente alinhados com o que o presidente Lula tem comunicado em sua agenda internacional e tem orientado a ação de nosso corpo diplomático. Na Embratur, montamos uma equipe extremamente qualificada para esse desafio, e criamos uma gerência de Sustentabilidade e Ações Climáticas. Convidamos o professor Saulo Rodrigues Pereira Filho, que atuava como consultor em ações climáticas e já representou nosso país na ONU quando éramos protagonistas nesse debate.

O mundo caminha na direção de uma tomada de consciência de como os padrões de consumo interferem na nossa sobrevivência no planeta. Cada vez mais as pessoas estão mais engajadas na hora de decidir qual marca ou produto consumir, e na hora de fazer turismo não é diferente. O turismo internacional pode e deve nos ajudar a ampliar essa cultura da sustentabilidade em nossa sociedade. Não só nos destinos em que nosso patrimônio natural é o principal atrativo, mas em todo o país. O turismo de sol e praia é o que mais atrai estrangeiros para o Brasil. 64,8% vem para nosso litoral. Ninguém gosta de praia poluída, com lixo, degradada, com canudo de plástico na bebida.

Vamos atuar para ajudar no desenvolvimento de inovação em tecnologias verdes que ajudem a reduzir a pegada de carbono do turismo, incluindo o uso de energia renovável, a implementação de práticas sustentáveis em hotéis e a promoção de práticas de turismo responsável. Já começamos a nos conectar com os atores globais que produzem inovação em políticas de sustentabilidade aplicadas ao turismo e com os fundos que estão dispostos a financiar essa transição. Estamos todos muito compromissados em dar o salto de qualidade que o Brasil precisa e que o mundo espera de nós.

GPB: A Embratur apresentará alguma proposta de vanguarda, inédita no que tange à sustentabilidade no turismo?

MF: É nosso objetivo. A gente entende que o Brasil tem potencial de ser líder global na formulação de soluções para a crise climática, e o turismo tem papel de protagonismo. Nos últimos anos, o Brasil esteve na contramão desse movimento, o governo Bolsonaro nos fez perder anos valiosos. Enquanto o planeta avançava inovando e criando soluções, aqui desmontava-se tudo que construímos ao longo de décadas.

Assumimos a Embratur neste cenário, entendendo que nosso desafio não é copiar as melhores práticas e tecnologias que estão sendo empregadas lá fora. A gente precisa rapidamente entender o estado da arte, nos conectar com quem produz inovação em outros países para, a partir daí, ir além.

Assim como o planeta, nós temos pressa. Vamos inaugurar a Embratur Lab, que vai servir como incubadora de turistechs, as startups do turismo. A primeira unidade vai ser no Rio de Janeiro, que vai ser nosso laboratório de inovação.

GPB: Por que o Rio?

MF: A cidade foi escolhida para iniciar esse projeto porque tem uma grande diversidade de serviços ligados ao turismo, desde a realização de grandes eventos ao ecoturismo urbano em nossas montanhas e florestas; do turismo religioso ao turismo de festas. Será nosso primeiro grande laboratório para testar inovações que serão utilizadas nos destinos turísticos em todo o Brasil.

Vamos produzir inovação na articulação de políticas de sustentabilidade também na gerência que criamos com essa finalidade. A Embratur está em diálogo com diversos ministérios do governo Lula, essa é uma política transversal de todo o governo, e vamos atuar para garantir desde a qualificação profissional da mão de obra que atua no trade turístico à garantia de linhas de financiamento em bancos públicos. Vamos conversar também com os agentes internacionais que estão interessados em nos ouvir e investir em iniciativas que promovam sustentabilidade.

GPB: O senhor acredita que o ser humano consiga, em algum momento, reverter ou ao menos conter os estragos que já produziu no
mundo?

MF: Esse momento tem que ser logo. Já não dá mais para tratar como utopia, isso é meta, com prazos e monitoramento constante. O que será da humanidade no planeta dependerá do sucesso dessa política, que necessariamente é global, mas que exige o compromisso e envolvimento de todas as nações.

É claro que essa tomada de consciência não é fácil e o cenário já é muito grave. As consequências do desequilíbrio ambiental são flagrantes na quantidade de desastres naturais que se multiplicam a cada ano, eventos extremos que penalizam infelizmente a parcela mais vulnerável da população.

Globalmente nós ainda não estamos dando a resposta adequada ao problema, as nações desenvolvidas precisam fazer muito mais, ainda são as que mais poluem por habitante, são os maiores responsáveis pelo problema, mas não parecem dispostas a mudar radicalmente padrões de consumo e financiar ações de mitigação das consequências a crise climática nos países mais pobres.

E, no Brasil, temos desafios profundos que são reflexo da desigualdade social. Quase 35 milhões de pessoas no Brasil vivem sem água tratada e cerca de 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto. Aqui consumimos e descartamos plásticos descartáveis de forma absurdamente insustentável, e a política nacional de resíduos sólidos está longe de ser uma realidade em todo território nacional.

Mas estamos na política justamente porque acreditamos que esse é o único caminho. É a política o campo do diálogo e do acordo, da organização da sociedade para uma ação coordenada, neste caso globalmente, para enfrentarmos o desafio da crise climática. Eu acredito que vamos conseguir entregar um planeta melhor para nossos filhos e netos.

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