A ligação entre a morte no Carrefour e o turismo

A Mata Atlântica encontra o mar no Saco do Mamanguá, Rio de Janeiro.

O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, o Beto Freitas, de 40 anos, por seguranças no estacionamento de uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre, em 19 de novembro, tem tudo a ver com o futuro do turismo. Eu sei que a frase pode soar absurda. Mas vai ficar claro que, mais e mais, os temas de racismo e turismo caminham juntos graças a uma sigla: ESG. 

ESG (Environmental, Social, Governance, na sigla em inglês) são parâmetros e indicadores não-financeiros cada vez mais adotados pelas grandes corporações para avaliar suas ações. Eles servem para avaliar riscos e oportunidades de crescimento. Também são usados por investidores, para saber se há segurança institucional dentro dessas organizações. Ou seja, meio ambiente, sustentabilidade e governança estão virando mais e mais mandamentos dentro de todos os mercados. 

E a tendência é que ganhem cada vez mais relevância. Sendo assim, a morte de Beto Freitas traz à tona um problema de governança da rede varejista francesa. O ponto é que esse mesmo crime poderia ter sido cometido dentro de uma grande rede hoteleira ou por um segurança de companhia aérea, em algum aeroporto do mundo. Enfim, por qualquer grande organização. 

É claro que o Carrefour apresentava-se como uma empresa supercumpridora desses indicadores e tinha, teoricamente, padrões ESG altos. Mas o que se vê é que, infelizmente, existe uma longa distância entre a teoria e a prática. Especialistas são unânimes: uma boa gestão de governança teria impedido aquela morte. 

O mesmo também pode ocorrer no turismo e nos mais variados pontos da cadeia produtiva. A cada dia vemos grandes players do setor tentando se apropriar do discurso da sustentabilidade em seus serviços. É inegável que há várias boas companhias fazendo um bom trabalho nesse sentido, há um bom tempo. E é natural (e desejável) que sejam almejadas e sirvam de inspiração. 

O que o caso de racismo e assassinato no Carrefour traz à tona é termos cuidado com o discurso. Nos obriga a afiar nossa visão crítica e interpretativa dos fatos e das informações que nos são dadas. Se uma empresa se diz preocupada, responsável e seguidora das melhores práticas de ESG, procure confirmar isso com outras fontes. 

É irônico que especialistas no tema classifiquem o ESG como “uma jornada e não como destino final”. O que traz mais e mais o tema para o turismo, de forma conceitual e prática. Restará ao nosso mercado avaliar que uso fazer desse parâmetro que pode, de fato, ajudar a aprimorar o que fazemos. E afastar de vez a pecha de “modinha”

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